top of page
Buscar

A ÚLTIMA OBRA



"Toda obra verdadeira exige sacrifício. Alguns sacrificam tempo. Outros, sanidade. Eu... ofereci sangue." — Heitor Vasques, Diário de Ateliê, 1894.


Dizem que artistas buscam a alma das coisas. Mas Heitor Vasques queria mais que capturar a alma. Ele queria aprisioná-la.

Na penumbra do século XIX, em uma cidade esquecida pelo tempo, Heitor caiu no esquecimento. Seus quadros não vendiam mais. A crítica o chamava de ultrapassado. O público o ignorava. E foi no silêncio desse desprezo que ele enlouqueceu.

Começaram os desaparecimentos. Pessoas comuns — modelos, vizinhos, andarilhos — nunca mais eram vistas. E, então, surgiram as pinturas.

Obras sem assinatura, enviadas anonimamente a galerias subterrâneas. Nelas, rostos distorcidos, olhos que gritavam, bocas presas em expressões de agonia. Pinturas que pareciam vivas. Mas o que mais chamava atenção era a cor: um vermelho denso, profundo, impossível de reproduzir.

“A dor como expressão. A vida como tinta.” — dizia o bilhete que acompanhava cada tela.

Os boatos surgiram. Alguém disse que Heitor Vasques usava sangue humano em sua pintura. Outro jurava ter visto um ateliê escondido, onde o chão era sujo e o ar fedia a carne podre.

Foi quando as autoridades arrombaram o ateliê de Heitor.

Lá, encontraram um mundo de horror.

Potes com líquidos escuros. Pincéis endurecidos. Cadernos com esboços demoníacos. E no centro, o cavalete.

Heitor estava lá.

Paralisado diante de sua última obra.

O corpo caído, os dedos rígidos segurando um pincel, os olhos esbugalhados de terror. Morreu de infarto, dizem alguns. Outros acreditam que a própria pintura o matou.

O quadro estava inacabado.

Uma silhueta humana pintada com linhas vibrantes, mas sem rosto. Onde deveria haver feições, havia apenas um borrão vivo — como se a tela se recusasse a aceitar um rosto.

Dizem que esse quadro, o único sem nome, foi trancado. Escondido. Queimado. Mas a arte verdadeira... não morre.

Tempos atuais.

Em uma tarde qualquer, uma jovem chamada Clara entrou num antiquário úmido e escuro, atrás de uma obra. Entre pilhas de molduras empoeiradas, ela encontrou um quadro sem identificação. Envolto em um pano, quase esquecido.

Retirou o pano que o encobria, sentiu algo — como um sussurro morno, quase um suspiro vindo da tela.

A imagem era perturbadora: um rosto, era apenas um borrão pulsante. Uma tela que ainda esperava uma alma.


Clara sorriu. Disse algo como “mais uma obra perturbadora pra coleção.”

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Realização

logo de um jacaré com claquete na mão, logomarca da v produções

Parceiros

images.png
logo.jpg

Apoio institucional

Logo-PMJ.png

Apoio

​SIGA O MONSTRO

  • Instagram Social Icon

© 2025 por V PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS LTDA.

bottom of page